As vezes me excedo
Não sei que espécie de euforia
Me acompanha
Pego-me mordida
De um contentamento sacro
Sorrindo para as vicissitudes do dia
Logo não reconheço
Minhas inspirações e
Minhas ansiedades subalternas
Às minhas vontades
Não sou poeta
Já não distingo a cor que o céu ganha
No fim da tarde outonal
Do olhar apurado
Sobrou a aflição
De fazer tudo certo e adequado
Não existem mais conflitos
Auxiliados pelos risíveis
Apegos e certezas
Meus amores e adorações
Não ganham culto
Esculpo o dia
Dominada pelos
Sobressaltos de uma alegria
Tardia seguindo
A rota que todos percorrem
Sem pensar, como rebanho
Mostrando no rosto
Um fixo sorriso
Forçado e preciso
A poesia
É um grito distante
Solto no ar
E as variações
Das cores
Servem apenas
Para decorar os lugares
Por onde ando
Já não vejo à minha volta
Meus medos e flagelos
Mas sei-os presente
Eles não ganham forma
Nem rima, métrica
Nem ficam presos
No pincel da melancolia
