Análise do filme ''Um homem que dorme'' do diretor Bernard Queysanne, baseado no livro homônimo do escritor francês Georges Perec.
O filme acompanha e explora a vida, ou melhor a ausência de vida, a ausência de gestos e vontades que constituem a vida corriqueira, de um rapaz solitário e ausente, que decide abandonar o curso da vida normal, e continua a viver apenas por viver. Em seus monólogos ele reflete sobre a alienação e o deslocamento social, do que todos nos nos tornamos nesses tempos modernos, do que a opressão da vida urbana nos tornou; solitários no meio de um fundo que se define pela multidão de pessoas que quase nunca reparamos ou percebemos, onde nossa presença é apenas um pequeno detalhe no meio de um complexo emaranhado de coisas existentes no mundo. Numa escala de percepção que pode ser analisado como pontos de interesse visual, o diretor traça o perfil detalhadamente da vida cotidiana que o rapaz principal do filme, tem. deslocado da sociedade, isolado do restante do mundo, apenas percebe pequenos detalhes que compõem o seu quarto, que ao todo são; três pares de meias boiadas numa bacia cor de rosa, duas camisas, um cinzeiro,um maço de cigarros marca Gauloises, uma tigela de Nescafé adoçado com leite condensado e açúcar, o livro "Leçons sur la societé industrielle", de Raymond Aron, aberto na página 112, o "Le Monde" , uma caixa de fósforos de 0,20 francos etc. Criando um distanciamento e indiferença que nos faz refletir por alguns instantes sobre a vida que levamos, sobre nosso comportamento, sobre as nossas escolhas. Nos faz buscar respostas para o sentido de tudo isso. E diante da inatingibilidade das respostas sofremos com as angústias deixadas pelas impertinentes indagações. E mais: nos faz perceber que somos apenas mais um no meio da multidão.
Mas mesmo andando por aí sem rumo certo, entrando e saindo de bulevares, com indiferença, mesmo assim, ele dorme, de olhos abertos, alheio a tudo e a todos. Nessa progressiva distância autoimposta o jovem, em um estado de quase inconsciência, se volta para o interior de si mesmo, constituindo um monólogo que o domina incessantemente e o perturba, parece que nada mais faz sentido e somente o silêncio e o vazio do seu quarto, o único refúgio no meio das infinitas coisas existentes, o alivia. Talvez seja porque em seu quarto não exista escolha, e nem é preciso esforço para se adaptar. Ele apenas precisa da repetição do cotidiano, assim, seus gestos tornam-se automáticos, quase alheios; as suas caminhadas pelas ruas da capital francesa, o bife duro que come, os lugares que sempre frequenta, o jornal que lê, o jogo, o preparo do seu nescafé, nada disso não lhe exige esforço nem profundidade. Não precisa de confirmação, de aprovação, nem das esperas que acarretam em ansiedades. Mas mesmo assim ele sente angustiado e segue o fluxo da vida na cidade turística, que em preto e branco parece se aproximar cada vez mais de seu estado de espírito. Sempre presente mas sempre distante ele é apenas um passante disforme que olha sem ver o rosto dos outros passantes e que anseia por solidão e silêncio, já que não o domina a sensação de pertencimento, que é pura ilusão, e por isso se esquiva enquanto se deixa levar, em um estado de torpor, pela multidão nas ruas.
Mas mesmo andando por aí sem rumo certo, entrando e saindo de bulevares, com indiferença, mesmo assim, ele dorme, de olhos abertos, alheio a tudo e a todos. Nessa progressiva distância autoimposta o jovem, em um estado de quase inconsciência, se volta para o interior de si mesmo, constituindo um monólogo que o domina incessantemente e o perturba, parece que nada mais faz sentido e somente o silêncio e o vazio do seu quarto, o único refúgio no meio das infinitas coisas existentes, o alivia. Talvez seja porque em seu quarto não exista escolha, e nem é preciso esforço para se adaptar. Ele apenas precisa da repetição do cotidiano, assim, seus gestos tornam-se automáticos, quase alheios; as suas caminhadas pelas ruas da capital francesa, o bife duro que come, os lugares que sempre frequenta, o jornal que lê, o jogo, o preparo do seu nescafé, nada disso não lhe exige esforço nem profundidade. Não precisa de confirmação, de aprovação, nem das esperas que acarretam em ansiedades. Mas mesmo assim ele sente angustiado e segue o fluxo da vida na cidade turística, que em preto e branco parece se aproximar cada vez mais de seu estado de espírito. Sempre presente mas sempre distante ele é apenas um passante disforme que olha sem ver o rosto dos outros passantes e que anseia por solidão e silêncio, já que não o domina a sensação de pertencimento, que é pura ilusão, e por isso se esquiva enquanto se deixa levar, em um estado de torpor, pela multidão nas ruas.
O jovem do filme é aquele que percebe a insignificância dos atos realizados por todos, dos esforços desmedidos que fazemos para nos tornamos ‘’alguém’’ e percebe que nada disso, afinal, vale a pena. Pois sempre continuará sendo um fundo incomunicável, de uma grande figura complexa e impertinente.
