terça-feira, 1 de maio de 2018

Não sou poeta


As vezes me excedo

Não sei que espécie de euforia

Me acompanha

Pego-me mordida

De um contentamento sacro

Sorrindo para as vicissitudes do dia

Logo não reconheço

Minhas inspirações e

Minhas ansiedades subalternas

Às minhas vontades

Não sou poeta


Já não distingo a cor que o céu ganha

No fim da tarde outonal

Do olhar apurado

Sobrou a aflição

De fazer tudo certo e adequado

Não existem mais conflitos

Auxiliados pelos risíveis

Apegos e certezas

Meus amores e adorações

Não ganham culto



Esculpo o dia

Dominada pelos

Sobressaltos de uma alegria

Tardia seguindo

A rota que todos percorrem

Sem pensar, como rebanho

Mostrando no rosto

Um fixo sorriso

Forçado e preciso

A poesia

É um grito distante

Solto no ar

E as variações

Das cores

Servem apenas

Para decorar os lugares

Por onde ando


Já não vejo à minha volta

Meus medos e flagelos

Mas sei-os presente

Eles não ganham forma

Nem rima, métrica

Nem ficam presos

No pincel da melancolia

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