quinta-feira, 13 de outubro de 2016

ESTADOS DE ESPÍRITO

À sombra de um poema ruim
escrevo sobre as dores do amor
guiada pelos olhos embriagados
sussurro desaforos
dito palavras odiosas
que no papel se tornam fumaças
onde costumava haver luzes e correria
vejo agora sombras e desespero
os olhos que vagam no nada
antecedem o abismo
um apelo lamurioso a humanidade 
silhuetas afetadas, pessoas indo e vindo
dias nublados 
ou ensolarados
mudam meus estados de espírito
que oscilam como ondas do mar
com igual destino
o trem do sossego vem vindo
e quando ele chegar fecharei os olhos
e  delirante
seguirei seu caminho.



Melancholy, Edvard Munch


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Vento forte no parque



                         
O vento forte no parque
O cheiro da recente alegria ainda estendida
Lama e restos por toda a parte
Desconstrói tudo que foi presenciado 
em um instante passado

Antes da chuva       
Antes do vento
Antes da lama

                                      

Caos e solidão no asfalto
Concretismo da minha tristeza velada
Junto ao ar raro
Junto ao paradoxo articulado
Junto as nuvens pesadas

O parque o vento e a chuva variante
força contrária do riso solto e 
das brincadeiras exploradas algumas horas passadas
Confunde todas as minhas pegadas


O efeito da tempestade então se consome
Numa tarde de sono e outono
e silêncio vivo

O vulto das crianças dispersas
A amarelinha desmanchada
O gato na árvore

Representam a imensa vontade de 

andar devagar
Se arrastar na lama
Na chuva no vento
No parque
E se esquecer de tudo por
Alguns instantes









Poema trabalho interno


o sonho nunca se esgota
o pensamento na porta
a xícara de chá morna
e o vento fugaz
tudo se desfaz


a areia com olhos vivos
os limites pagãos
a rápida volta às entranhas do mundo
lugares oximoros
Plutão, Nova York, Cazaquistão
estar la e aqui
assistir meu pai, com olhos de minha mãe
subir e descer montanhas
permanecendo ainda inerte


fumar transar andar
e não sentir
correr pular socar
e não existir


pulsões inconscientes
querer o que não quis
dizer o que não se diz
pagar para falar com o demônio
entender Deus Buda e filosofia zen
explorar vísceras e cavernas assombrosas
caminhar entre
o inicio o meio e o fim dos tempos
ser o eu articulista, santo ou querubim



e com uma simples batida na porta
                                  despertar de um inacessível                              
     espetáculo onírico


                                              The Persistence of Memory,  Salvador Dalí
  



Chovia

Acordei com o ruído das gotas de chuva batendo no parapeito da janela.
Eram quatro da tarde quando acordei.
Chovia.
Embora, um maravilhoso facho de luz dourada e serena entrasse pela janela iluminando o quarto todo verde claro e lilás. Ergui a cabeça, e vi, espremido entre a janela e a cortina, o sol de fim de tarde, belo ainda que tímido, escondido por algumas nuvens carregadas. Fechei os olhos, contrariando com esse gesto a vontade que qualquer criatura teria de contemplar aquela estupenda cena, e estiquei com delicadeza minhas mãos até àquela lâmina de luz quente, como se agarrasse algo substancial. Senti um toque suave e uma agradável onda de calor nas mãos, depois... a sensação. Não ousei me mexer. Sentada na cama, Com os olhos semicerrados, na quase escuridão, vinha ate mim o TIC TAC do relógio, o ruído melancólico dos pingos da chuva e o toque da caixa postal.  Embora pouco palpável, aquela comprida luz me dava uma celestial paz. E então.. aquele súbito entendimento que vem devagar, se arrasta, magia diagonal!  o vento sopra no seu ouvido e você se sente fluindo. Os últimos raios do sol sumindo.
Não lembro de mais nada. só lembro que chovia.


Viagem ao litoral

Tarkovsky Polaroids   Quando a visão é surpreendida Por dois filetes de água Que rasgam as montanhas E a linguagem se t...